terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Bodas de ouro- reluzindo nossa família

                                    Bodas de ouro- reluzindo  nossa família

                                                         Rosângela Silva 

Dois jovens. Um casamento. Uma vida a dois começa. E tanta história para contar depois de 50 anos.
No começo dificuldades imensas, sonhos distantes de serem realizados, desafios diários a serem superados.  O trabalho só dava para  comprar o pão de cada dia. Não havia sobras, nem estoque.
A terra dava o sustento se fosse trabalhada, arada, roçada. E trabalhar na terra é desafio para gente que ama o solo, que sabe acariciar o chão com as mãos e molhá-la com o suor extraído da face. E isso o pai sabia fazer com maestria.
Nunca teve medo do trabalho, nem do esforço, nem da lida diária. Acordar cedo, enfrentar o frio,  a geada, a seca, o fogo, os espinhos e pedras do caminho não lhe punha medo.
A mãe, cuidava da casa, limpava, preparava a comida, levava comida na roça, lavava roupa no ribeirão, lenhava, caiava a casa. Alicerçava e era esteio para o pai. Tantas vezes também enfrentava a roça. Logo vieram os filhos e essa era uma tarefa grande. Cinco crias. Cinco amores, que nunca mais deixaram-lhe o semblante tranquilo.Um deles já não está entre nós, mas não sai da lembrança da nossa mãe.
Ele: agricultor, lavrador, boiadeiro, caminhoneiro, retireiro, leiteiro,vendedor, negociante, balconista, comerciante, administrador, até pedreiro.
Ela: mãe, dona de casa, lavradora, faxineira, cozinheira, costureira, boleira, doceira, cuidadora.
O tempo passa, o trabalho é tanto que não há tempo para senti-lo.
Tempo, o senhor da vida, engole nossos dias, traiçoeiramente.
E dia após dia, hora após hora, ano após ano, lá se vão 50 deles.
O que se viveu nessas cinco décadas está guardado nas memórias e o registro de tudo é um livro de muitas páginas, a ser lido pausadamente, degustando minuciosamente cada capítulo. A  história contada mistura romance, amor, drama, suspense, aventura,humor, fantasia.
Filhos crescidos, trilharam seus caminhos, honraram a educação recebida. Herdaram o caráter, a hombridade, a fibra  e o gosto pelo trabalho.
Vieram os netos, que enchem a casa de alegria e de barulho também. Cada um que chegava, unia mais a família e trazia mais amor para ser repartido.
Nessa linha do tempo as emoções são diversas e os acontecimentos misturam os sentimentos, que mudam a cada novo acontecimento. Às vezes faz sol, às vezes venta e em outras vezes chega um temporal. A certeza que se tem é que sempre um novo dia vai raiar sem que se possa saber o que virá. Será preciso vivê-lo do jeito que se apresentar.
Obstáculos, contratempos, provações, desentendimentos.
Cuidados, afeição, doação, enfrentamentos.
Complicações, bloqueios, dores, tristezas.                                                                                 
Ajuda, força, companheirismo, alegrias.
Contrariedades, embaraço, decepção, revezes.
Paciência, apoio, conselhos,  satisfação.
Cobrança, apertos, impasses, apuros.
Incentivo, contentamento, prazer, glória.
Amargura, desafeto, aflição, discussões.
Gosto, bem-estar,animação, gozo.
Desajuste, raiva, disciplina, dureza.
Orgulho, paz, amor, família.
Uma família como tantas outras. Com acertos e desacertos, mas que têm os laços apertados e que sabem poder contar uns com os outros, tendo orgulho  do que cada um representa no íntimo de cada um.

Que esses 50 anos de união apertem ainda mais os nossos laços.

Saber esperar


                                                              Saber esperar  
                                                              Rosângela Silva

Publicado em: http://www.revistadavila.com.br/2016/11/educacao-saber-esperar-rosangela-indaiatuba/
Hoje em dia é bastante espetacular quando encontramos uma criança ou adolescente com a capacidade de autodisciplina.
A maioria deles não suporta frustrações, não admite esperar e deseja ser tratado com uma especialidade além do normal.
Todos se julgam  muito importantes, muitos são extremamente birrentos e outros têm a ousadia de querer mandar em casa. E mandam!
Educar uma criança para saber esperar, para adiar um desejo, para saborear a conquista, para a autodisciplina não é fácil, especialmente porque a maioria dos pais também se sente muito especial, também  tem seus mimos e caprichos e também querem ser vistos e notados com uma especialidade fora do comum.
Outro dia soube de uma menina que ganhou um roteador do pai para por em casa. A mãe não concordava muito e achava que uma a conexão em casa em um único computador favorecia o controle e a segurança. Não correu para fazer  a instalação, não se apressou. E lá ficou o roteador parado por meses. Às vezes a menina pedia e a mãe conversava e adiava a instalação. Exercício de espera, de dizer não ao imediatismo.
Em outro caso a mãe havia comprado uma caixa de chocolates para levar a uma amiga. O encontro demorou uns dias e a caixa permanecia lá na mesa à espera do dia da visita. O menino pediu para a mãe deixá-lo abrir, mas a mãe explicou que era o presente da sua amiga e que quando fosse ao mercado lhe traria uma igual. O menino não fez birra, não esbravejou. Entendeu. Exercício de espera, de ser capaz de adiar um desejo. Na semana seguinte a mãe lhe trouxe o chocolate pedido.
Em nova situação soube de uma menina que queria um tênis de marca. A mãe disse que lhe daria no seu aniversário que ficava quatro meses à frente. Ganhou o tênis no dia do aniversário. Exercício de espera, da  capacidade de adiar, de aguardar por algo.
O que leva os pais a saciarem os desejos de seus filhos com tanta “imediatez”? Que vontade é essa de suprir suas vontades sem fazê-los passarem pela espera? Que medo intenso lhes causa a frustração do seu pimpolho? Que senso de perda ou fracasso lhe provoca o ato de dizer a palavra “não”?  O que lhes faz aceitar birras, crises de choro e xingamentos, sem esboçar nenhuma reação de autoridade?
A vida é passageira, sim, mas enquanto estamos vivos temos que preparar nossos filhos para bem vivê-la: aceitando, tendo paciência, compreendendo melhor os acontecimentos.

Despertar para a sensibilidade

Despertar para a sensibilidade

                                                             Rosângela Silva

Publicado em  http://www.revistadavila.com.br
Não há receitas prontas para educar os filhos, para fazê-los serem pessoas de sucesso, para transformá-los em  pessoas éticas.
Não há fórmulas certas, nem formas que possamos colocá-los e depois de um tempo brotar o sonhado filho.
Há sim atitudes e ações cotidianas que podem ajudar a formar um indivíduo mais atento, sensível e ético. Como querer ter um filho sensível sem que ele vivencie a sensibilidade?
Como sonhar com um filho ético, sem que ele exercite essa prática?
Como vislumbrar um filho empreendedor se tratá-lo como um “bebezão” incapaz?
Outro dia vi uma adolescente pedir para a mãe parar o carro para que fotografasse uma linda árvore forrada por um tapete de  flores no chão. A mãe parou! Era uma cena linda! Antes de fotografar a árvore realmente a menina, já a tinha fotografado na mente. Olhou, se sensibilizou, gostou do que viu e então o ato de fotografar para seu registro.
A mesma menina foi premiada recentemente em um concurso de fotografias da cidade. Andava com o pai pela cidade, passaram por um lugar bonito, o pai chamou-lhe a atenção e sugeriu a foto. Ficou lindo o registro a ponto da foto ser premiada. Mérito só da garota?
Claro que não, se o pai não lhe mostrasse e não lançasse o desafio da foto, talvez ela sozinha não percebesse a beleza daquele momento.
Nesses dois exemplos fica clara a importância do “despertamento”, do incentivo, do “treinar o olhar” para as coisas belas que se expõe ao nosso redor.
Sem tempo para observar e conhecer os filhos não é possível transformar pequenos instantes em ricas aprendizagens de vida.
Sem disponibilidade para estar com os filhos e gastar nosso tempo com eles, não é possível entender como pensam e como resolvem seus conflitos.
Sem coragem para abdicar de si mesmo em favor da educação e fortalecimento dos filhos não é possível intitular-se pai ou mãe.